06/05/2010

8 - Fontes de Pesquisa

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Com base em vários documentos que faziam referência à vida de Álvaro Fernandes Countinho, o célebre Magriço, imortalizado por Camões, que se encontram de um modo disperso por vários livros. Algumas passagens são pura ficção, contudo, baseadas na personalidade de “cavaleiro andante” que era apanágio do valoroso português.





7 – A “Justa” em BAR-LE-DUC

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A Fama do sucesso dos doze de Inglaterra, em especial, a bravura demonstrada por Àlvaro Fernandes Coutinho,o Magriço, logo correu rapidamente por todos os castelos e praças fortes, cidades e lugarejos, onde havia cavaleiros “Probos e Preclaros” desejosos de defrontar tais valorosos cavaleiros. Pois um desses cavaleiros franceeses, Pedro de Brabant, denominado Clignot, Almirante de França ,veio desafiar para uma “ justa” o cavaleiro português. O Magriço aceitou esse desafio que se realizou na cidade de Bar-le- Duc,na Flandres, onde se encontrava para oferecer os seus préstimos a D. João I, duque da Borgonha e conde da Flandres. A justa realizou com a presença de bastante público,curioso em saber se o Magriço conseguia derrotar o célebre Pedro de Barbant. Presidia a este embate o Duque de Borgonha e Conde de Flandres. Quandos o arauto soprou a trombeta para o primeiro duelo, os dois cavaleiros baixaram a viseira do elmo e lançaram-se com a lança em riste com o objectivo de lha partir ou derubar o adversário.

O primeiro embate é violento e O Magriço consegue partir a lança de Pedro de Barbant, mas este conseguiu aguentar-se na sela. Substituida a lança, de novo os cavaleiros, esporeiam as montadas lançando-se em velocidade para com vigor derrubar ou partir a lança do adversário. O Magriço evitou a lança de Pedro de Barbant e com um golpe de mestre derruba o cavaleiro françês. Um estrondo aplauso houve-se da multidão. O pagem foi em auxilo do seu cavaleiro derrubado, enquanto O Magriço dirigia-se para o palanque onde se encontrava o Duque de Borgonha para ser facilitado pela vitória obtida.
Álvaro Fernandes Coutinho permaneceu na corte da Borgonha durante uns anos ao serviço de D. João I, duque da Borgonha e conde da Flandres, que reconhece os grandes serviços a si prestados por Álvaro Gonçalves Coutinho e, em agradecimento,concede privilégios aos portugueses na Flandres.
Regressado a Portugal, casou com D.Isabel de Castro passando a viver no Porto.

6 - Os Festejos da Vitória

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O Duque de Lencastre, para lhes agradecer, albergou no seu palácio os portugueses. E, enquanto eles não regressaram a Portugal, todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca faltavam as doze damas. Em casa do Duque de Lencastre, e quando os nossos cavaleiros se iam sentar à mesa, as damas quiseram lavar as mãos dos seus respectivos campeões. Onze aceitaram cortesmente esta delicadeza; porém Magriço o não consentira à sua, porque, tinha ele tantos pêlos nas suas enormes mãos, que se lhe não viam as unhas. Instado pela dama, lhe respondeu - "Sabei, senhora, que as minhas mãos, segundo as tenho, tão grosseiras e cabeludas, poderão ser-vos molestas, e temo que vos causem desgosto." - ao que a dama respondeu - "Antes, quanto elas assim são mais fortes e valentes, devo eu lava-las com maior acatamento, pois me salvaram da desonra e infâmia, que sem duvida, me era de maior desgosto." - Então o cavaleiro consentiu que ela lhe deitasse a agua.



Seguiu-se o repasto.Os alimentos em sua maior parte eram servidos em pratos ou em potes de ensopado, e as pessoas pegavam suas porções dos pratos e colocavam-na em recipientes de madeira, de pão seco ou de peltre com a ajuda das mãos.



Antes da refeição, o estômago foi preparado com um aperitif que era de natureza quente e seca: confeitos feitos de açúcar— ou mel —, condimentos revestidos, como gengibre, alcaravia e sementes de erva-doce, ou cominho, vinho e bebidas de leite adoçadas e fortificadas.
O primeiro prato a ser servido foi uma bela carne de porco seguídos de leitões alimentados somente com o leite da mãe que era uma iguaria muito apreciada. Seguiu-se uma carne de carneiro e de cordeiro, comuns, nestas festanças. Diferentemente da maior parte do mundo ocidental moderno, todas as partes do animal eram comidas, incluindo orelhas, focinho, cauda, língua e ventre. Entre as carnes que estavam presentes e que hoje são raras ou até mesmo consideradas inapropriadas para consumo humano eram a de ouriço e de porco-espinho.
Como o estômago fora “aberto”, deveria ser "fechado" no fim da refeição com a ajuda de um digestivo, que naqueles tempos consistia em massas de açúcar condimentadas, ou hypocras, um vinho aromatizado com condimentos fragrantes, juntamente com queijo velho.
Depois do repasto e antes do merecido repouso, as damas e os portugueses dançavam a Estampie, que era uma dança sapateada e o tradicional e famoso Saltarello que era uma dança saltitante. Já a noite ia alta quando os valoroso cavaleiros portugueses, meios ébrios, regressavam aos seuis aposentos.

5 - O Torneio dos Doze da Inglaterra

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A nau lusa chegou às costas inglesas, depois do mau tempo e tempestades que sempre ocorrem no mar da Byscaia. Desembarcados e dando tempo para se recomporem, seguiram viagem para o local onde o torneio se desenrolaria, perto de Londres, além do mais havia que esperar pelo Magriço que devia estar a aparecer. O torneio era a ocasião mais propícia para um cavaleiro demonstrar coragem e honra. Era um momento no qual aqueles homens viris e violentos desafogavam suas energias acumuladas, e se entregavam virilmente à luta.

O arauto e os “reis de armas” publicavam oficialmente os torneios e anunciavam o nome dos combatentes, dando a conhecer seus gritos de guerra e suas qualidades.Os arautos também eram especialistas em reconhecer os brasões das equipes.
Os verdadeiros cavaleiros deviam ser “ probos e preclaros”. Probo é o termo mais utilizado para se referir a um cavaleiro que denota a qualidade ideal : o caráter íntegro, honesto, recto, justo daquele que porta a cavalaria. Preclaros que significa ilustres, todos queriam vencer aquele cavaleiro que demonstrasse a sua invencibilidade.
Os doze cavaleiros ingleses e os onze cavaleiros portugueses estavam preparados para o torneio. Perfilados nas suas belas montadas frente ao palanque, onde se encontravam as damas inglesas vitimas das ofensas e a presidir ao torneio o Duque de Lencastre.
Aproxima-se a hora do combate. Ninguém tem medo, dos nossos. Só uma coisa os preocupa: - a demora de Magriço, que anda não se sabe por onde anda.
Os cavalos dos combatentes espumam já. O sol rutila nas lanças, nas espadas e nos arneses. A ansiedade de todos é enorme. Mas do lado dos ingleses há doze cavaleiros, e do nosso lado - só onze!...
Dá sinal a trombeta do combate e os cavaleiros espoream os cavalos, largam as rédeas, abaixam as lanças. Faísca a terra sob as patas dos animais, que mordem os freios de ouro. O chão parece tremer todo, sacudido.
Onde estaria, perguntam todos, o descuidado Magriço?
De repente, grande alvoroço se produz e toda a gente olha para a entrada do campo.É Magriço que entra, montado no seu cavalo, vestido e pronto para o combate.
A sua dama logo ali mesmo se enfeita com luxuosos arminhos, que são adornos de festa.
O coração de quem olha os cavaleiros estremece, tão violenta é a luta. O aço das armas torna-se vermelho com o sangue do inimigo. Uns, caíndo, parecem voar dos cavalos até ao chão, outros, derrubados e arrastados, açoitam com os penachos dos elmos as ancas dos ginetes. Morrem alguns. O resto fica ferido. E, depois de porfiada peleja, os portugueses vencem inteiramente os adversários, com aprumo e galhardia raras.
A soberba inglesa sofreu assim um duro golpe, mas as damas ficaram desafrontadas da injúria sofrida, graças à coragem e audácia dos nossos, que não hesitaram em bater-se pela honra alheia...
O Duque de Lencastre, para lhes agradecer, albergou no seu palácio os portugueses. E, enquanto eles não regressaram a Portugal, todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca faltavam as doze damas. À volta, segundo contam, ainda Magriço e um seu companheiro tiveram alguns desafios, o primeiro na Flandres e o segundo na Alemanha. Não deixavam nunca de pôr à prova a sua valentia e destreza no manejo das armas.

05/05/2010

4 - A Viagem

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O Magriço deixou a zona ribeirinha do Douro no Porto e dirigiu-se para Castela seguindo a rota dos peregrinos de Santiago de Compostela, conhecido pelo Caminho Françês, por ser de grande interesse histórico e religioso como também de maior trânsito sendo assim possível arranjar onde repousar e comer. Seguindo primeiro em território português por Braga, passou a fronteira, seguiu por Orense,Ponferrada,Astorga,Leon, Burgos; Logroño, Pamplona, cruzou-se com muitos peregrinos, uns indo para Santiago outros vindos da terra do santo milagroso e chegou aos Pirineus, mais propriamente a Roncesvalles, sem ser importunado. Neste local, de longa história, onde pululavam muitos ladrões, que se escondiam nas matas do densa florestação e que rodeava o caminho de terra batida. Os ladrões assaltavam os pobres peregrinos e roubavam tudo o que transportavam, especialmente ofertas em ouro para o Santo.

Já era lusco-fusco quando O Magriço que andava à procura de local para pernoitar, uma estalagem ou mesmo um refúgio para peregrinos, quando ouviu na estrada a umas centenas de metros á frente, uma gritaria de pessoas que pediam socorro. Esporou ao seu cavalo e aproximou-se do local, silenciosamente. A cena que seus olhos presenciaram, ferveu-lhe o sangue. Meia dúzia de pobres peregrinos estavam a ser assaltados por três malfeitores que apontando compridas lanças, espadas de dois gumes e um inclusivé com um enorme arnês, exigiam aos peregrinos: - As carteiras ou a vida? - disse um deles - Somos uns pobres peregrinos que vamos para Santiago, tende piedade de nós – disse um deles - Nem nos interessa um pouco- respondeu um deles O Magriço desmontou lentamente, e o com uma rapidez que surpreendeu os assaltantes, atravessou um com a sua lança, pregando-o numa árvore um dos meliantes, e desembainhando a espada, em meia dúzia de golpes postrou por terra os outros dois assaltantes. Os peregrinos estavam estupefactos perante tanta destreza.
- Obrigado senhor, salvou-nos a vida.
- Rezai por mim em Santiago, por este cavaleiro que vai travar uma dura luta em Inglaterra. Ide em Paz.


O Magriço continuou a sua longa viagem por terras de França até a Flandres, local de destino antes de atravessar para Inglaterra. A viagem foi dura mas o Magriço alcançou os objectivos a que se propôs - “ conhecer terras e águas estranhas, várias gentes e leis e várias manhas".

3 - A Partida da Nau para Inglaterra

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O alvoroço era enorme na zona ribeirinha junto ao Rio Douro no Porto. Ia partir para Inglaterra uma nau com doze dos mais distintos e garbosos cavaleiros que autorizados por sua majestade o rei D.João I e a convite do Duque de Lancaster, iam defender a honra de doze damas inglesas, injuriadas por palavras proferidas por outros tantos cavaleiros também ingleses, pedindo-lhe que, pelas armas, assumisse a defesa da honra ofendida.

O Duque, não querendo afrontar directamente esses cavaleiros, para não agravar um problema interno, logo se lembrou de doze cavaleiros portugueses que conhecera, ao lado do rei de Portugal, seu genro, que combatera as tropas de Castela. Os nobres cavaleiros eram fidalgos de grande prosápia , cavaleiros ilustres da melhor estirpe portuguesa, rumavam com as suas montadas pelas estreitas ruas do Porto, acompanhados dos seus pajens com a parafernália de mercadorias para o combate da honra.














Os doze cavaleiros, eram eles: Álvaro Vaz de Almada , Soeiro da Costa, Álvaro Mendes Cerveira, João Pereira Agostin, Lopo Fernandes Pacheco, Luís Gonçalves Malafaia, Martim Lopo de Azevedo, Pedro Homem da Costa, Rui Gomes da Silva, Rui Mendes Cerveira , Vasco Anes da Costa Côrte-Real e Álvaro Fernandes Coutinho, o célebre Magriço.
Mediante o escrito nas cartas toda a corte se sentiu ofendida, e visto que o povo português era um povo cavalheiro e defensor da honra, logo se deu a partida dos Doze para Inglaterra. Quando se dava o embarque o cavaleiro Álvaro Fernandes Coutinho disse que não os acompanharia, iria por terra até a velha Albion, decidira seguir no seu cavalo por terra a fim de saciar a curiosidade que tinha de conhecer terras e águas estranhas, várias gentes e leis e várias manhas, garantindo no entanto que estaria presente no local e na data certa. Esta viagem iria ser difícil e demorada, tanto mais que o nosso herói aproveitaria para ir visitando os lugares importantes por onde iria passar, em Espanha, França e Flandres. Com grande espalhafato, o “Magriço” despediu-se dos seus companheiros, esporou a sua montada e perante uma enorme salva de palmas e de vivas, arrancou para uma longa viagem com perigos inusitados, mas a sua valentia, que ninguém duvidava, não o colocaria em situações embaraçosas das quais não sairia vitorioso.

2 – O Castelo de Penedono e a Lenda das Duas Pedras Brancas


Durante o século XI, ao sabor dos avanços e recuos das fronteiras cristãs, Penedono e o seu castelo mudaram de mãos em diversas ocasiões. Antes da sua reconquista definitiva que se deveu à ação do rei leonês Fernando Magno (1064), o castelo foi pertença de uma bela moura, muito rica. Conta a “ Lenda das Duas Pedras” que consta de duas pedras brancas que se distingue perfeitamente no lado direito da fachada, relativamente próximas.Estas pedras são as tampas de duas caixinhas misteriosas, aí deixadas pela bela moura, para esconder a sua fortuna e para que ninguém lha roubasse, colocou numa caixa todos os seus tesouros e na outra a peste que causaria a morte imediata a quem se atrevesse a abrir.Como ninguém sabia em qual das caixas se escondia o tesouro, ninguém até hoje, se atreveu tentar abrir uma das caixas, porque, quem remover a pedra errada libertará a peste que matará todos os habitantes da região. Um inventário dos bens do Mosteiro de Guimarães, lavrado em 1095 relaciona o Castelo de Penedono entre outros bens anteriormente legados por D. Chamoa. Com a emancipaçãopolítica de Portugal, os seus domínios passaram a integrar os da jovem nação. D. Sancho I (1185-1211), ante a situação estratégica de Penedono, próxima à linha fronteiriça, incentivou o repovoamento dessas terras através de Foral (1195), ao mesmo tempo em que determinava a reconstrução das suas defesas. O seu sucessor, D.Afonso II (1211-1223) confirmou-lhe o foral em 1217. A povoação e o seu castelo também tiveram a atenção deD.Dinis (1279-1325), que lhe determinou reforços na defesa.



Tendo falecido na Primavera de 1384 o alcaide de Penedono, Vasco Fernandes Coutinho, sucedeu-o na função o seu filho, Gonçalo Vasques Coutinho. Posteriormente, distinguiu-se, por mérito, na Batalha de Trancoso (Maio de 1385), o que lhe valeu a promoção ao posto de marechal. Acredita-se que, no Castelo de Penedono, tenham nascido os filhos deste alcaide e, dentre eles:
· o primogênito, Vasco Fernandes Coutinho, 1º Conde de Marialva, e
·
Álvaro Fernandes Coutinho, o cavaleiro de alcunhado Magriço, o nosso herói , um dos Doze de Inglaterra, imortalizado por Camões.

1 - Álvaro Gonçalves Coutinho - O Magriço

Filho de Gonçalo Vasques Coutinho, alcaide de Trancoso, e de D.Leonor Gonçalves de Azevedo, esse a quem os portugueses conferiram em 1385 o encargo de chefiar as forças que conquistaram o castelo da Feira. Diz uma carta régia lavrada em 1415 ser natural de Penedono, donde igualmente o eram ascendentes seus. Alí nascerem os filhos, e entre eles o celebre Magriço, Álvaro Gonçalves Coutinho, um dos Doze de Inglaterra, glorificados por Camões no conhecido episódio dos Lusíadas em que descreve o combate vitoriosamente travado em Londres nos fins do século XIV, por doze cavaleiros portugueses que ali foram defrontar outros tantos cavaleiros ingleses, em desafronta de doze damas inglesas, maltratadas de palavras por aqueles seus compatriotas. O romântico castelo de Penedono, onde nasceu Álvaro Gonçalves Coutinho, foi local onde foi moldado as típicas características de cavaleiro medieval, aventuroso, esforçado, pundonoroso e assomadiço, Camões se empenhou em vivamente acentuar. De outros feitos deste cavaleiro andante, diz-se que defrontou um cavaleiro francês de seu nome Pedro de Brabant, denominado Clignot, almirante de França que teria ocorrido na cidade de Bar-le-Duc que saiu vitorioso, mas os motivos desta peleja devia ter sido, mais uma vez, a defesa da honra de alguma dama. Consta que travou uma peleja com cavaleiros num torneio em Paris no ano de 1415. D. João, duque da Borgonha e conde da Flandres, reconhece os grandes serviços a si prestados por Álvaro Gonçalves Coutinho e, em agradecimento, concede privilégios aos portugueses na Flandres.O Magriço depois de ter frequentado a corte da Borgonha, regressou a Portugal, vindo a constituir família, casando com D. Isabel e a viver no Porto.