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A nau lusa chegou às costas inglesas, depois do mau tempo e tempestades que sempre ocorrem no mar da Byscaia. Desembarcados e dando tempo para se recomporem, seguiram viagem para o local onde o torneio se desenrolaria, perto de Londres, além do mais havia que esperar pelo Magriço que devia estar a aparecer. O torneio era a ocasião mais propícia para um cavaleiro demonstrar coragem e honra. Era um momento no qual aqueles homens viris e violentos desafogavam suas energias acumuladas, e se entregavam virilmente à luta.
O arauto e os “reis de armas” publicavam oficialmente os torneios e anunciavam o nome dos combatentes, dando a conhecer seus gritos de guerra e suas qualidades.Os arautos também eram especialistas em reconhecer os brasões das equipes.
Os verdadeiros cavaleiros deviam ser “ probos e preclaros”. Probo é o termo mais utilizado para se referir a um cavaleiro que denota a qualidade ideal : o caráter íntegro, honesto, recto, justo daquele que porta a cavalaria. Preclaros que significa ilustres, todos queriam vencer aquele cavaleiro que demonstrasse a sua invencibilidade.
Os doze cavaleiros ingleses e os onze cavaleiros portugueses estavam preparados para o torneio. Perfilados nas suas belas montadas frente ao palanque, onde se encontravam as damas inglesas vitimas das ofensas e a presidir ao torneio o Duque de Lencastre.
Aproxima-se a hora do combate. Ninguém tem medo, dos nossos. Só uma coisa os preocupa: - a demora de Magriço, que anda não se sabe por onde anda.
Os cavalos dos combatentes espumam já. O sol rutila nas lanças, nas espadas e nos arneses. A ansiedade de todos é enorme. Mas do lado dos ingleses há doze cavaleiros, e do nosso lado - só onze!...
Dá sinal a trombeta do combate e os cavaleiros espoream os cavalos, largam as rédeas, abaixam as lanças. Faísca a terra sob as patas dos animais, que mordem os freios de ouro. O chão parece tremer todo, sacudido.
Onde estaria, perguntam todos, o descuidado Magriço?
De repente, grande alvoroço se produz e toda a gente olha para a entrada do campo.É Magriço que entra, montado no seu cavalo, vestido e pronto para o combate.
A sua dama logo ali mesmo se enfeita com luxuosos arminhos, que são adornos de festa.
O coração de quem olha os cavaleiros estremece, tão violenta é a luta. O aço das armas torna-se vermelho com o sangue do inimigo. Uns, caíndo, parecem voar dos cavalos até ao chão, outros, derrubados e arrastados, açoitam com os penachos dos elmos as ancas dos ginetes. Morrem alguns. O resto fica ferido. E, depois de porfiada peleja, os portugueses vencem inteiramente os adversários, com aprumo e galhardia raras.
A soberba inglesa sofreu assim um duro golpe, mas as damas ficaram desafrontadas da injúria sofrida, graças à coragem e audácia dos nossos, que não hesitaram em bater-se pela honra alheia...
O Duque de Lencastre, para lhes agradecer, albergou no seu palácio os portugueses. E, enquanto eles não regressaram a Portugal, todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca faltavam as doze damas. À volta, segundo contam, ainda Magriço e um seu companheiro tiveram alguns desafios, o primeiro na Flandres e o segundo na Alemanha. Não deixavam nunca de pôr à prova a sua valentia e destreza no manejo das armas.
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